sábado, 13 de novembro de 2010

Retorno de Ambulância

A volta de Rio Preto para Tupã estava sendo feita no carro, como das outras vezes. Meu pai no banco transeiro, acomodado com forro de edredon e vários travesseiros nas costas.
Num trajeto de 100 km parei o carro umas 4 vezes para ajeitá-lo no banco. Mas esse ajeitar era difícil, quase impossível, pois não tinha espaço para ele mover a perna (que continuava muito inchada e dolorida).
Eu e minha mãe tentávamos, mas nossa força física é limitada e a posição no carro tbm não ajuda.
Já estávamos perto de Penápolis quando me lembrei que meu primo mora lá e podia ajudar encontrando uma ambulância para meu pai acabar de chegar em casa. Naquelas condições e com dor ele não ia aguentar não.
Paramos no hospital da Unimed de Penápolis, pedimos para o médico plantonista aplicar um analgésico no meu pai e assim seguir a viagem na ambulância.
Outro hospital ruim, medíocre. Não havia nem funcionários e enfermeiros para tirar meu pai do carro! Quase terminei de arrebentar meus pulsos pra evitar que meu pai se machucasse ao sair do carro e ir para a maca.
Mas deu certo. A ambulância veio super devagar e meu pai não sofreu na viagem de volta pra casa.

3ª Quimioterapia

A 3ª sessão de quimioterapia estava marcada para o dia 13/10.. Inicialmente era para ser feita tbm na unidade da UNIMED, mas o dr. Flávio disse que era necessário outra transfusão de sangue.
Fomos dessa vez para Rio Preto no dia 12/10, dia de Nossa Senhora Aparecida. Resolvemos ficar num hotel (Globo Rio), pois assim seria menos desgastante pro meu pai ficar esperando a internação dentro do carro.
Mais uma adaptação, pois meu pai estava com a dieta de sonda e no hotel não havia a estrutura de cozinha pra preparar e lavar a sonda.
Fiz a dieta usando água mineral no lugar do leite de soja. Até aí tudo bem. O duro foi adaptar um lugar para o frasco de dieta ficar no alto e assim a dieta pingar normalmente.
Minha mãe teve a brilhante idéia de usar o lustre de cabeceira. Envolvemos o frasco num pedaço de saco plástico e amarramos no lustre. Com o maior cuidado pra não dar curto circuito!
Deu certo e meu pai não passou fome não.
Nesse dia, mesmo com fralda geriátrica, o xixi escapou tudo na cama. Meu pai acordou todo molhado e o colchão encharcado. Ficamos bravas com ele, pois o colchão estava destruído e não sabíamos como pagar esse prejuízo ao hotel.
Coitado.... não teve como evitar e a gente preocupada com o hotel.....
Mas essas brigas e "surtos" tbm fazem parte do dia a dia de quem cuida dos doentes. Não se culpem por isso, pois somos seres humanos vivendo a doença junto do paciente 24 horas por dia e é normal sair do sério.
Ficar no hotel esperando a internação foi a melhor coisa que fizemos pois o quarto no hospital ficou liberado por volta das 10h30. Imagina meu pai ficar dentro do carro durante e viagem (2 horas) e mais todo esse tempo aguardando pra entrar no hospital.
Dessa vez ficamos na "ala par". Um quarto minúsculo, uma ala lotada e barulhenta. Os enfermeiros tbm não eram tão atenciosos como os da "ala impar". A angústia estava só começando....
A transfusão de sangue seria (e foi feita) na 4f - 13/10 e a quimioterapia na 5f (14/10). Só que mais uma vez a UNIMED Bauru enrolou a autorização. Sempre com a desculpa que necessita passar pela auditoria (que nunca funciona).
Pra piorar ainda mais o hospital Ben. Portuguesa "sumiu" com a prescrição dos medicamentos que seriam usados na quimio. Ou seja, um não autorizava porque o outro não tinha passado a prescrição.
Nem preciso dizer que tive mais uma vez que gritar, brigar, xingar, ameaçar chamar a Polícia para que o hospital encontrasse essa prescrição. Eu estava disposta a procurar um Distrito Policial para registrar BO de sumiço de documentos. Foi um jogo de empurra entre funcionários e milagrosamente essa prescrição "apareceu".
Por que tudo tem que ser assim, na base da ameça pra funcionar???? Ainda mais quando se trata de saúde que toda família já está "doente". Esse é o nosso Brasil.
Chegou a 6f (15/10) e nada de autorização da UNIMED!
O médico havia dito que se a quimioterapia não fosse feita na 6f ele ia dar alta pro meu pai e nós teríamos que retornar na proxima semana. Imagina o tamanho do desgaste!
Mais uma vez eu perdi a paciência com Bauru. Com o aval do meu pai peguei o carro e segui pessoamente pra resolver a parada com o tal "auditor sem nome" que nunca trabalha. E avisei os atendentes Daniel, Karina e Luciana que eu estava a caminho e que ia chegar na UNIMED com a Polícia.
Meu corpo tremia, meus braços formigavam, a cabeça tava explodindo. Pensei que eu fosse ter um enfarte ou coisa pior. Mas segui pela estrada. Cada vez que eu percebia sinal no celular aproveitava pra ligar para a UNIMED e saber da autorização.Quando eu já tinha rodado praticamente 1 hora minha mãe ligou dizendo que a UNIMED havia avisado ela que a quimioterapia havia sido autorizada!!!
Minha vontade era continuar até Bauru e "armar o barraco" que eles mereciam, mas o tratamento do meu pai tinha que estar em primeiro lugar e retornei pra Rio Preto.
 A quimioterapia transcorreu bem, sem vômitos, sem coceira, sem nada.
No sábado voltamos pra casa.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

A 2ª Quimioterapia

A 2ª quimioterapia foi marcada para o dia 21/09, na unidade de Quimioterapia da UNIMED de Rio Preto.
É um lugar muito bem preparado para receber os pacientes.
Fomos de carro, meu pai no banco traseiro, muito debilitado, quase sem falar.
A falta de alimentação acarretou ao meu pai uma debilidade muito grande e eu temia pelas consequências dessa nova quimio. Por isso pedi para o dr. Flávio fazer uma avaliação no meu pai enquanto ele tomava o coquetel da quimio.
Enquanto todos os pacientes tomavam a quimio sentados e poltronas confortáveis (tipo aquelas do "papai"), meu pai ficou isolado no canto da sala, numa maca.
O Dr. Flávio concordou comigo que a situação de saúde dele tinha agravado muito e prescreveu transfusão de sangue novamente após a quimio, que foi feita no hosp. Benf. Portuguesa.

Adaptações da dieta

Após uns 3 dias que começamos a dieta da sonda meu pai começou ter diarréia. Já não sabíamos se era decorrente da quimioterapia ou da nova alimentação. Ou se era dos dois.
Eram 4, 5 evacuações liquidas, muitas vezes em sequencia.
Assim foi necessário colocar fralda geriátrica para pode preservar a roupa de cama e também para trazer um pouco mais de conforto pra ele.
Fizemos algumas adaptações na dieta da sonda, como substituir o leite de vaca por leite de soja e nas últimas dietas da noite o uso da água no lugar do leite.
Mesmo assim também foi necessário dar o medicamento Tiorfan a cada 8 horas, senão a diarréia não dava tregua.
Essa fase de adaptação da dieta, diarréia, etc, durou uns 10 dias.

Dieta da Sonda

No dia 22/09 (exatamente no dia do meu aniversário), ainda internado no hosp. Benef. Portuguesa de Rio Preto, a enfermeira Bianca passou a sonda para alimentação.
Essa sonda é introduzida pelo nariz e chega até o estômago, ficando de fora cerca de 30 cm para conectar o alimento.
Saimos do hospital e fomos até a Nutrapharma para orientações da nutricionista Ivete, de como preparar esse alimento da sonda.
A dieta de 2.100 calorias por dia foi a seguinte: 6 vezes ao dia :200 ml de leite desnatado, 3 colh. (sopa) de Isossource standart e 50 ml de Impact. Tudo isso devidamente batido no liquidificador e colocado na sonda para correr em no mínimo 40 minutos. Nos intervalos das dietas passamos sucos de frutas e água filtrada.
Todo cuidado com a sonda é pouco! Todos os frascos de dieta, equipos, seringas, etc, devem ser muito bem lavados com detergente e depois esterelizados.
Nosso trabalho aumentou, pois a 1ª dieta do dia começava as 07h00 e a última às 22h00.
Após cada dieta é necessário passar de 20 a 30 ml de agua filtrada para "lavar" a sonda e assim não entupir.
No começo me apavorei com tanta informação, tanto cuidado e tanta dieta. Mas aos poucos a gente vai se acostumando...

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Perda de Apetite

Cerca de 1 mês após o diagnóstico de câncer meu pai perdeu completamente o apetite. Nâo aceitava alimentos sólidos, muito menos os salgados e doces. O pouco que ele ingeria era sucos, frutas, iogurte e yakult.
Essa perda do apetite não sabíamos se era psicológica ou se já era efeito da doença. Ou se era as duas coisas juntas, o que é bem provável.
Não é fácil pra uma pessoa super ativa, que não gostava e não aceitava doença admitir que tem CÂNCER.
Nosso esforço (meu e da minha mãe) pra ele se alimentar era enorme. Toda fruta que ele gostava tinha em casa. No almoço minha mãe cozinhava músculo de boi com legumes, batia no liquidificador e fazia uma papa pra ele comer. Eram 4, 5 colheres e mais nada.
Muitas vezes eu perdia a paciência obrigando ele a comer, pois sabia que a alimentação é que ia dar suporte pra ele aguentar as sessões de quimio. Perdi a conta de quantas vezes eu dizia: pai, come isso aqui. pai, bebe um pouco desse suco.
Foram 40 dias sem comer praticamente NADA. Até que eu implorei pro dr. Flávio autorizar passar sonda enteral, senão ele ia morrer de fome.

1 ª Quimioterapia

A primeira sessão de quimioterapia (no total de 6) foi marcada para o dia 31/08 no hosp. Beneficiência Portuguesa em Rio Preto.
Fomos pra lá no dia 30/08, internamos e nesse mesmo dia o dr. Flávio realizou a biópsia da medula óssea. Nâo assisti o procedimento, mas quando entrei no quarto percebi lágrimas nos olhos do meu pai. Ele disse que o exame tinha sido muito dolorido....
Fiquei muito triste em vê-lo assim, mas o exame é necessário para saber até que ponto a doença havia avançado ou não na medula. Ou seja, um mal necessário.
A quimioterapia foi no dia seguinte, depois de várias brigas com a UNIMED Bauru para autorizar.
Todos nós estávamos anciosos pra começar, pois não sabíamos como meu pai iria reagir ao tratamento (efeitos colaterais). Mas transcorreu tudo bem, a não sei uma coceira no último medicamento.
A quimioterapia prescrita pelo dr. Flávio é denominada R-CHOP, um composto de CICLOFOSFAMIDA, DOXARUBICINA, VINCRISTINA  e RITUXIMABE.
Após a quimio houve transfusão de 2 bolsas de sangue, pois os exames apontavam para uma anemia.